quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Um poeta cientista

Até mesmo em poemas encontramos o tema do nosso trabalho.


Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

(António Gedeão)

domingo, 9 de dezembro de 2007

Carta de amor do químico Magnésio à sua amada Valência


Queres dois minutos de boa disposição?
Fernando Pessoa dizia que as cartas de amor eram ridículas, porque, se não fossem ridículas, não seriam cartas de amor. Nós subscrevemos totalmente as palavras de Álvaro de Campos e aqui reproduzimos as palavras de um imaginativo autor anónimo.







Ouro Preto, Zinco de Agosto de 1995.


Querida VALÊNCIA:


Sinto que ESTRÔNCIO perdidamente apaixonado por ti. Ao deitar-me, quando DESCÁLCIO meus sapatos, MERCÚRIO no SILÍCIO da noite, reflicto e vejo que me sinto SÓDIO. Então, desesperadamente CRÓMIO.
Sem ti, VALÊNCIA, a minha vida é um INFERRO. Ao pensar que tudo começou com um ARSÉNIO de mão, CLORO de vergonha. SABISMUTO que te amo, embora não o digas, sei que gostas de um tal HÉLIO e também do HIDROEUGENIO. De ANTIMÓNIO, posso assegurar-lhe que não sou nenhum ÉRBIO e que HABÁRIO para viver. OXIGÉNIO cruel tu tens.
VALÊNCIA! Não PERMETAIS que eu COMETAIS algo ERRÁDIO. Por que me fazes sofrer tanto assim, sabendo que tu és a luz que me ALUMÍNIO? Meu caso é CÉRIO, mas não ÁCIDO razão para um ESCÂNDIO social. Eu soube que a PLATINA contou que te EMBRÓMIO com esse NAMOURO.
MANGANÊS, deixa-te disso e não acredita NIQUELA disser, pois sabes que nunca agi de modo ESTANHO contigo. Aliás se não tiveres arranjado outro ANGONIOMENTO, procura um ADVOGADOURO e me METAIS na cadeia. Lembra-te porem que não me SAIS do pensamento.

ABRÁCIDOS COMOVIDROS deste que muito te ama,

MAGNÉSIO